Quando eu era adolescente, me achava um pouco acima do peso. As saídas de compras com as amigas eram doces e amargas: a alegria da companhia, mas a frustração com o corpo.
Não sei se você já viveu essa experiência: sair para fazer compras, ir com a melhor disposição, entrar em várias lojas, experimentar roupas… e não encontrar nada que sirva. Ali, a blusa me apertava; um número acima, eu me afogava no tecido. Em outra peça, o cinto quase não me deixava respirar. A calça era tão longa que eu poderia limpar o chão a cada passo, e os babados ficavam muito melhores na minha amiga Maria, enquanto em mim, pareciam de um bolo de festa! No final do dia, uma sensação de mal-estar se instalava em mim. A imagem que eu tinha de mim mesma ficava mais negativa, a culpa e um toque de desânimo vinham junto. Nunca imaginei que o problema não fosse eu.
Então, um dia, numa fria manhã de inverno chileno, no ateliê do meu querido professor Ignacio Lechuga, um dos mestres da arte sartorial, eu entendi algo que mudou minha vida. A única medida que todas as mulheres têm em comum é a altura do quadril, que varia entre 16 e 17 cm… e ainda assim, há exceções! Você deve estar se perguntando como isso pode ter mudado tanto minha vida? Por trás dessa descoberta, há uma percepção poderosa: não existe corpo padrão. Isso não existe! Quando vamos às compras, esperamos que nosso corpo se ajuste aos padrões de cada marca. Cada marca define seu perfil de cliente, e um 40 da The Kooples não é o mesmo que um 40 da Etam, assim como um G da Maria Filó não é o mesmo que um G da Garage. O problema não é o seu corpo.
Quando entendemos que o ideal da nossa sociedade (especialmente na França) é mais voltado para a magreza, fica fácil imaginar o impacto nos padrões de tamanhos. Mas a média de peso das mulheres francesas mudou ao longo dos anos: em 1970, era de 60,6 kg, e hoje é estimado em 67,3 kg (Ufih).
Vamos aos números: na França, o tamanho 34, que corresponde a 0,7 % das mulheres, representa cerca de 14 % das opções de roupas, enquanto o tamanho 46, usado por 9 % das mulheres, representa apenas 0,6 % da oferta (Instituto Francês de Têxteis e Vestuário, IFTH). E no Brasil, apesar dos avanços, a variabilidade dos tamanhos ainda é um problema, e os consumidores continuam enfrentando dificuldades para encontrar roupas que se ajustem bem.
Ao escrever este artigo, meu objetivo é compartilhar essa percepção, na esperança de que ajude você a refletir sobre seu próprio corpo. Seu corpo não é um padrão; você é único.
Para mim, poder criar roupas sob medida foi uma forma de colocar meu corpo em uma dinâmica de respeito. Hoje em dia, fazer compras é um prazer total. Nunca é meu corpo que tem problema; é apenas a marca que não tem nada a oferecer para minha singularidade.
Eu não me peso mais. Me sinto bem no meu corpo, e os números não têm mais impacto negativo. O que é um 40, um 44, um G ou um GG? Quando vejo algo que gosto, eu experimento. Se ficar bom, ótimo; se não, paciência!
Minha nova palavra de ordem: gentileza!